DEMOGRAFIA EM CAMBRA (cont.)

Vizinhos e Pessoas

(Memórias Paroquiais de 1758, continuação)

Das questões do Inquérito de 1758, no que ao concelho de Cambra diz respeito, a terceira pergunta da primeira parte do questionário, quanto ao número de vizinhos e pessoas - «Quantos vizinhos tem e o número de pessoas?» -, foi respondida pelos párocos na sua totalidade quanto ao número de pessoas, mas, no que concerne aos vizinhos com algumas respostas em branco.
O recenseamento, que D. Maria I mandou efectuar em 1801, foi o primeiro com carácter geral realizado em Portugal, ainda assim baseado nas informações dos registos paroquiais (a Igreja tinha nas paróquias o acervo estatístico actualizado da população portuguesa) e das correições. O 1.º Recenseamento Geral da população portuguesa só virá a ser efectuado em 1 de Janeiro de 1864[1].
A  informação quanto à população e fogos disponibilizada nas Memórias Paroquiais de 1758, é retirada do “rol dos confessados” ficando a incerteza se estes números foram ou não cruzados com os registos paroquiais, nomeadamente os registos de óbito e de nascimento, para a actualização dos dados das pessoas, ou mesmo confirmados “pessoalmente” pelos párocos que tinham a obrigação de conhecer todos os seus paroquianos.
A considerar também que este rol não tinha acesso aos casos “marginais” da paróquia, tais como os dementes, os não católicos, o exército, os ausentes e obviamente os menores de idade. Como é quase nula a existência de não católicos, tal como a população flutuante de funcionários públicos e exército, só os ausentes e os menores são pontualmente destacados.


Os menores de acordo com José Viriato Capela e Henriques Matos [2], seguem uma “referência-padrão”:

«Fixam-se aqui os conteúdos dos termos de referência-padrão nesta contagem de população: Pessoas de confissão, engloba as pessoas entre 7 e 12/14 anos. Pessoas de comunhão, engloba as pessoas da população acima 12/14 anos. Pessoas de confissão e comunhão, engloba as pessoas e população acima de 7 anos. Pessoas, são as pessoas de sacramento de confissão e de comunhão, isto é, acima de 7 anos. Menores, neste caso, são as pessoas aquém 7 anos, que não são de sacramentos.»

Portanto consideremos como menores, as pessoas com menos de sete anos de idade.
            No que aos “fogos” (vizinhos) diz respeito, a Igreja já havia regulamentado rigorosamente o seu conteúdo. Não sabemos se todos os párocos estavam informados ou teriam o mesmo conceito de “fogo”, que basicamente seria, um conjunto de pessoas (com parentesco, mas também poderia ser de laços profissionais) que habitavam a mesma casa, ou, por outro lado, confundiam com o conceito de “família” ou agregado familiar, este composto por elementos unidos por graus de parentesco.
            Assim, na resposta à questão, «Quantos vizinhos tem (e o número de pessoas)?», elaboramos o seguinte quadro das respostas efectuadas pelos párocos do concelho de Cambra e com base na transcrição de Ângelo Pinho [3]:

FREGUESIA
VIZINHOS
PESSOAS

Arões
296
1281

Castelões
450
1420

Cepelos
-
680
«entre machos e femeas»
Codal
87
337
«confessam e comunhão»
Junqueira
147
671

Macieira de Cambra
-
1135
discrimina duzentos e quarenta e nove menores.
Rôge
-
939

Vila Cova
-
156

Vila Chã
201
549
discrimina 12 ausentes

           Verificamos que, as freguesias de Cepelos, Macieira de Cambra, Rôge e Vila Cova, não referem o número de fogos. Nas situações marginais ao rol de confessados só o pároco de Vila Chã discrimina os ausentes (12) e o de Macieira de Cambra refere os menores (249), talvez por ter cruzado com os registos de nascimento.
            Quanto ao número de vizinhos só 5 de entre 9 freguesias são quantificadas. Será interessante questionar o porquê destas lacunas, pois sabemos, que os registos paroquiais tinham registo dos fogos existentes e o respectivo cabeça do agregado.
           




[1] Ver, Jorge Carvalho Arroteia, A Evolução Demográfica Portuguesa. Lisboa, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa. Ministério da Cultura, 1984. Ver também: Fernando Alberto Pereira de Sousa, A população portuguesa nos inícios do século XIX. Porto, 1979, policop., 2 vols.
[2] Ver, José Viriato Capela e Henriques Matos– As Freguesias dos Distritos de Aveiro e Coimbra nas  Memórias Paroquiais de 1758. Memórias, História e Património. Vol. 7, Braga, 2011, p. 711.
[3] Ver, Ângelo Augusto Silva Pinho – Terras de Cambra. Traços do passado, imagens presentes. Vale de Cambra, M. Vide & Irmão, Lda, 2005

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